Mensagem

A Mensagem da Bela Senhora

 
 

A Bela Senhora põe-se de pé. Os dois não se mexiam. Ela lhe diz, em francês: - Vinde, meus filhos, não tenhais medo, aqui estou para vos contar uma grande novidade!.

Então, as crianças descem até a Bela Senhora.

Olham-na. Ela não para de chorar: - “Achávamos que era uma mamãe cujos filhos a tivessem espancado e que se teria refugiado na montanha para chorar”..

A Bela Senhora é alta e toda de luz. Veste-se como as mulheres da região: vestido longo, um grande avental, lenço cruzado e amarrado às costas, touca de camponesa. Rosas coroam sua cabeça, ladeiam o lenço e ornam seu calçado. Em sua fronte a luz brilha como um diadema. Sobre os ombros carrega uma pesada corrente. Uma corrente mais leve prende sobre o peito um crucifixo resplandecente, com um martelo de um lado, e de outro uma turquês.

“Nós a ouvimos, não pensávamos em mais nada”. Como Maximino e Melânia, deixemos que ressoe em nós também o que ela falou no alto da montanha. Com eles, ouçamos a Bela Senhora, contemplando o Crucifixo resplendente de glória sobre seu peito.

Se meu povo não quer submeter-se, sou forçada a deixar cair o braço de meu Filho. É tão forte e tão pesado que não o posso mais suster.

Há quanto tempo sofro por vós! Dei-vos seis dias para trabalhar, reservei-me o sétimo, e não me querem conceder! É isso que torna tão pesado o braço de meu Filho.

E também os carroceiros não sabem jurar sem usar o nome de meu Filho. São essas as duas coisas que tornam tão pesado o braço de meu Filho. Se a colheita se estraga, e só por vossa causa. Eu vos mostrei no ano passado com as batatinhas: e vós nem fizestes caso! Ao contrário, quando encontráveis batatinhas estragadas, juráveis usando o nome de meu Filho. Elas continuarão assim, e neste ano, para o Natal, não haverá mais.

A palavra “batatinhas” (em francês: ‘pommes de terre’), deixa Melânia intrigada. No dialeto da região, se diz “la truffa“. E a palavra ‘pommes‘ lembra-lhe o fruto da macieira.

Ela se volta então para Maximino, para lhe pedir uma explicação. A Senhora porém, adianta-se dizendo:

Não compreendeis, meus filhos? Vou dizê-lo de outro modo:

Retomando pois, as últimas frases no dialeto de Corps, língua falada correntemente por Maximino e Melânia, a Bela Senhora prossegue:

Se tiverdes trigo, não se deve semeá-lo. Tudo o que semeardes será devorado pelos insetos, e o que produzir se transformará em pó ao ser malhado. Virá grande fome. Antes que a fome chegue, as crianças menores de sete anos serão acometidas de tremor e morrerão entre as mãos das pessoas que as carregarem. Os outros farão penitência pela fome. As nozes caruncharão, as uvas apodrecerão.

De repente, a Bela Senhora continua a falar, mas somente Maximino a entende. Melânia percebe seus lábios se moverem, mas nada entende. Alguns instantes depois, Melânia por sua vez, pode ouvir, enquanto Maximino, que nada mais entende. Assim a Bela Senhora falou em segredo a Maximino e depois a Melânia. E novamente, os dois em conjunto ouvem as seguintes palavras:

Se se converterem, as pedras e rochedos se transformarão em montões de trigo, e as batatinhas serão semeadas nos roçados.

Fazeis bem vossa oração, meus filhos?

“Não muito Senhora”, respondem as crianças.

Ah! Meus filhos, é preciso fazê-la bem, à noite e de manhã, dizendo ao menos um Pai Nosso e uma Ave Maria quando não puderdes rezar mais. Quando puderdes rezar mais, dizei mais.

Durante o verão, só algumas mulheres mais idosas vão à Missa. Os outros trabalham no Domingo, durante todo o verão. Durante o inverno, quanto não sabem o que fazer, vão a Missa zombar da religião. Durante a Quaresma vão ao açougue como cães. Nunca viste trigo estragado, meus filhos? “Não Senhora”, responderam eles.

Então, Ela se dirige a Maximino:

Mas tu, meu filho, tu deves tê-lo visto uma vez, perto do Coin, com teu pai. O dono da roça disse a teu pai que fosse ver seu trigo estragado. Ambos fostes até lá. Ele tomou duas ou três espigas entre as mãos, esfregou-as e tudo caiu em pó. Ao voltardes, quando estáveis a meia hora de Corps, teu pai te deu um pedaço de pão dizendo-te: “Toma, meu filho, come pão neste ano ainda, pois não sei quem dele comerá no ano próximo, se o trigo continuar assim”.

Maximino responde: “É verdade, Senhora, agora lembro. Há pouco não lembrava mais”. E a Bela Senhora conclui, não mais em dialeto, e sim em francês:

Pois bem, meus filhos, transmitireis isso a todo o meu povo.

E subindo sem se voltar, repete: Vamos, meus filhos, transmiti isso a todo o meu povo!